Você sabe para onde o mercado de suínos vai?

É preciso uma mistura muito bem equilibrada entre fundamentos de mercado, capacidade de observação, dados estruturados e principalmente saber se relacionar com a própria visão dos fatos.

Alvimar Lana e Silva JallesAlvimar JallesSeguir

10 Agosto 2022

Não há como resistir a essa pergunta não é verdade?

O ano de 2022 foi de crise na suinocultura para todo mundo. Algumas regiões do Brasil o prejuízo já acontece faz bem mais de que esses 8 meses.

E não temos nenhuma métrica que nos permita acompanhar os cenários, a nível Brasil, baseados em dados e tempo real. A plataforma BSEMG da Associação de Suinocultores de Minas Gerais, por hora, faz a leitura apenas de alguns estados e o relatório de abate do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que tem alta aderência à realidade dos preços é uma fotografia muito boa, porém, de três meses passados sempre dois meses depois.

O que fazemos então? Vamos tateando no escuro para achar o caminho.

É possível isso? Sim, eu creio. É simples e fácil? Aí já prefiro deixar para a opinião do próprio leitor.

Mas, o objetivo deste texto é compartilhar com vocês parte desse processo. É preciso uma mistura muito bem equilibrada entre fundamentos de mercado, capacidade de observação, dados estruturados e principalmente saber se relacionar com a própria visão dos fatos, que pode ser resumido em “dosar o ego”.

Comecemos por ele. Como o ego elevado afeta a análise de mercado? De várias formas.

A primeira é achando que somos uma atividade especial, geradora de alimentos nobres, empregos, impostos e que essas caraterísticas positivas vão nos proteger dos efeitos do capitalismo. Não vão! Se quando a margem de lucro na atividade estiver elevada e eu me sentir um super-homem e decidir aumentar a produção baseado em escolhas contaminadas por esse superdimensionamento da importância do negócio certamente não vai dar bom resultado.

Na sequência, passamos a reclamar como se algo ou alguém estivesse nos imputando um sofrimento que não foi gerado pela própria cadeia de produção. Começamos a buscar inimigos externos para nos aliviar das próprias escolhas. E não podemos dizer que foram só alguns estados que cresceram porque a suinocultura mineira, último representante da suinocultura chamada independente e empresarial cresceu a tonelagem de carne suína abatida em 9,41 % em bases anuais agora no primeiro trimestre de 2022.

Gráfico 1 – Crescimento percentual da suinocultura mineira em total de carne suína abatida.

O ego ainda nos atrapalha quando fazemos a análise da nossa situação comparando-a com os demais elos da cadeia. Sonhamos e nos expressamos como se o mercado fosse feito de boa ou de má vontade dos frigoríficos, atacado e varejo. Nos esquecemos que nenhum deles é uma extensão da granja, muito pelo contrário. São negócios tão complexos e desafiadores quanto os nossos. Temos dificuldade em sair da posição egocêntrica e simplesmente propomos soluções irrealistas e inexequíveis. A lista é grande, mas no final o que resolve a coisa é sempre o próprio mercado, porque depois do sofrimento ele nos devolve a bonança, onde geralmente esquecemos o acontecido anteriormente, na hora da dificuldade, partindo para o interminável ciclo capitalista.

O ego elevado também afeta profundamente o espírito crítico quando nos leva a procurar heroísmos para solucionar as crises ou elevar os preços, esquecendo-se totalmente que o mercado não reage às pessoas e apenas a oferta, procura e expectativas. Individualmente não existem heróis nem vilões!

Se você chegou até aqui e conseguiu escapar do seu ego tem chances de começar a entender o mercado e aí vamos falar sobre alguns de seus fundamentos: preços são feitos por oferta e procura que são fortemente afetados por expectativas e na sequência determinados pela concorrência.

Concorrência para vender abaixa qualquer preço, assim como concorrência para comprar eleva. Bem simples! Isso vale qualquer produto! Não é questão de boa ou má vontade…é simples questão de necessidade.

E podemos afirmar com toda tranquilidade que a lei de oferta e procura é algo tão definitivo como a Lei da Gravidade definida por Newton. Não escapamos de nenhuma das duas.

Quem sabe em um futuro, nos qual nenhum de nós estará mais por aqui, a nossa sociedade encontre outra forma de organização. Por hora o que nos governa é o velho e bom capitalismo de mercado e procure entendê-lo sem distorções para viver e decidir melhor.

No Brasil também insistimos em debater a suinocultura sem falar da oferta. Ficamos falando de desemprego, inflação, veganismo, exportações, preço do frigorífico, margem do varejo como se a causa da crise fosse externa à cadeia de produção. É como se pudéssemos produzir o que quiséssemos sem riscos nem consequências futuras.

Isso simplesmente não existe. A oferta é a primeira pauta do produto que tem o preço mais discutido no mundo: petróleo. Aprendamos com eles!

Depois de falarmos de ego, oferta versus procura e alguns de seus desdobramentos chegamos nos efeitos da crise para buscar entender o mercado.

Considerando de como a oferta sofre influência direta dos bons e maus momentos seguimos para o final de nosso texto contando exatamente como estamos “tateando” para entender o mercado que nos espera. Apesar da distorção existente na cadeia de produção porque alguns participantes conseguem investir à margem do ciclo de preços, não há como não haver alguma redução de oferta ou acomodação que, sob novo consumo per capita irá encontrar outro nível para determinar se estaremos sob escassez ou sobra de carne suína.

Temos mais espaço “desenhar” que explicar conceitualmente as bases de nossa hipótese. Alguns gráficos são suficientes para que vocês entendam.

É sobre os conceitos de suporte e resistência de preços.

Depois de deflacionarmos os preços de Minas Gerais, como referência, temos os níveis de R$ 6,0 como suporte e R$ 8,0 como resistência. Fora disso são “momentos especiais” que também existem.

Gráfico 2 – Áreas de suporte e resistência de preços do suíno vivo mensal deflacionado pelo IGP-DI em Minas Gerais de 2013 a 2022 pelo CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada.

A hipótese que proponho, desde o piso do miniciclo de maio/22, fazendo hoje mais de 3 meses, é que a pressão de oferta (real e aparente) foi máxima em janeiro de 2022, a partir dali entramos em nova trajetória dos miniciclos de preços.

Gráfico 3 – Áreas de suporte e resistência de preços do suíno vivo semanal praticado em Minas Gerais.

Observe que o primeiro suporte foi R$ 5,20, depois R$ 5,30, quando esperávamos R$ 5,40 ele parou em R$ 5,80 e ficou 8 semanas entre alta e estabilidade. Quando ensaia nova queda essa durou apenas uma semana e o suporte passou para R$ 6,80. Exatamente R$ 1,00 acima do último!

Alguém ainda acredita que se a concorrência para vender mercadoria, que além de suínos vivos existem carcaças e cortes, estivesse mais forte, os preços parariam de cair?! Se você entendeu o restante do texto e está analisando o mercado sem ego elevado sabe que não.

Pois é…essa é minha hipótese sobre o processo de escassez que se instala gradativamente e que seguiremos nele enquanto caminhamos para o final do ano. Depois de tamanha crise acho difícil não haver redução ou no mínimo estabilização da produção com novo patamar de consumo per capita.

Se essa hipótese não se realizar pode ter certeza de que faremos outro texto debatendo às razões. Porque, algo que qualquer um que se pretende analista sabe é que a realidade não está nem aí para nossas opiniões.

Mas, para esse caso eu citaria Peter Drucker fechando o texto: “Nunca faço previsões. O que faço é chamar a atenção para consequências inevitáveis para fatos que já aconteceram.”

Se uma crise dessas proporções não enxugar a oferta teremos que rever nosso capitalismo.