O mercado de suínos no Brasil, nesse momento, é um didático exemplo para falarmos do equilíbrio entre as curvas de oferta e procura que determinam as quantidades comercializadas e os preços.
Alvimar JallesSeguir
9 Outubro 2020
Uma das formas usuais de se procurar explicar e entender economia é reduzir seus modelos complexos em exemplos e variáveis mais simples. Dessa maneira fica mais fácil de isolarmos os fatores dentro da grande equação tridimensional em constante movimento que são os mercados na vida real.
O mercado de suínos no Brasil, nesse momento, é um didático exemplo para falarmos do equilíbrio entre as curvas de oferta e procura que determinam as quantidades comercializadas e os preços.
Vamos usar apenas os movimentos de exportações de carne suína para a China para ficar bem fácil e a gente aproveitar o aprendizado da equação.
Pode parecer complexo à primeira vista mas, com um pouco de atenção, você irá perceber exatamente como flutuam as variáveis. Acho que vale a pena.
Observe que no eixo y temos as flutuações de preços (P1 a P5) e no eixo x as quantidades comercializadas (Q1 a Q5). As curvas de oferta e de procura deslizam em sentindo horizontal, avançando para a direita e recuando para a esquerda. O ponto de encontro entre elas sinalizará o equilíbrio entre preços e quantidades transacionadas (Figura 1).
O ponto E1 no gráfico é o equilíbrio original com resultado de preço em P1 e quantidades em Q1. É a resultante das quantidades demandadas pelo mercado e ofertadas pela produção. Vamos considera-lo como momento inicial de nosso exercício.
O primeiro movimento é o aumento da demanda levando a linha D1 para a posição D2. As quantidades comercializadas (Q2) crescem e o preço (P2) também. Teremos aí o novo ponto de equilíbrio E2. Como exemplo real de alteração de D1 para D2 podemos considerar a demanda chinesa pela carne suína brasileira que começou a crescer em 2019.
No segundo momento, a curva de oferta (S: suply) também se desloca para a direita, (S2) resultado de um aumento de oferta estimulado pelo crescimento dos preços do momento P2. Para a mesma demanda anterior (D2), teremos uma quantidade maior de produtos transacionados no eixo x e o preço de equilíbrio cai, retornando ao P1 (P1=P3) novamente como resultado do novo equilíbrio E3. Nós já vemos os primeiros sinais crescimento da oferta pelas quantidades de abates divulgadas pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no mês passado. Os crescimentos percentuais de Santa Catarina em 4 trimestres está em 11,60% e do segundo trimestre de 2020 em relação ao mesmo trimestre de 2019 está em 15,96%, (Figura 2).
Se a oferta (suply) continua crescendo para uma nova curva (S3), com a demanda mantida no mesmo patamar (D2) seguimos para um novo equilíbrio (E4) com preços menores (P4).
Uma outra possibilidade nessa simulação é o recuo da curva de demanda (D2 volta para D1), depois de a oferta ter crescido (S1 está em S3). Com a curva de oferta já deslocada para a direita no eixo y, esse recuo da curva da demanda levará o preço a novo equilíbrio, ainda mais baixo que o preço inicial. Com excedentes de quantidade de produtos (Q) esse ajuste costuma ser dos mais dolorosos até se atingir o novo equilíbrio (E5). Vivemos situação semelhante na suinocultura brasileira em 2018 com o fim das compras de carne suína brasileira pela Rússia.
Para finalizarmos, com analogias claras em relação aos movimentos de demanda de carne suína brasileira pela China, o momento inicial (E1) foi o primeiro semestre de 2019, o momento 2 (E2) o segundo semestre de 2019. Os dados de crescimento de abates divulgados pelo IBGE mês passado nos sugerem que estamos caminhando para E3, respondendo com aumento de produção. O momento E4 ainda não chegou e o E5 é constantemente discutido: será o recuo nas importações de carne do mundo inteiro pela China quando retomarem sua produção interna de carne suína. Como mostrado na figura 1.
A sequência descrita acima tem apenas uma função didática. O funcionamento na vida real é esse, apenas com a diferença que vários fatores se misturam e interferem uns nos outros. Na prática a simplicidade didática acima é um sistema naturalmente “caótico”. Imagine-se em uma teia de variáveis extremamente dinâmica aonde não sabemos de antemão nem a intensidade nem a duração dos momentos descritos acima.
Mas o objetivo aqui é favorecer o entendimento da dinâmica que está por trás de cada situação que vivermos na atividade e não há dúvidas: funciona da forma descrita.
Sempre haverá fundamentos de mercado para cada evento. Não faz sentido ficar procurando culpados ou “justiça” quando os “equilíbrios” não nos favorecerem. Mercados são ambientes de oportunidades e de riscos. Cada participante, cada empreendedor trabalha legitimamente para obter os benefícios dos preços atraentes e dos momentos de boa lucratividade. Esse é o jogo. Só é saudável construir os mecanismos internos em seus próprios negócios para superar os momentos mais duros.
Precisamos sempre nos manter nesse enfoque e no diálogo adulto sobre causas e efeitos em qualquer tempo.