Lucro e prejuízo afetam os investimentos em suinocultura no Brasil?

A suinocultura brasileira insiste em discutir seus desafios sem chegar ao ponto chave: a oferta!

Alvimar Lana e Silva JallesAlvimar JallesSeguir

12 Janeiro 2022

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) continuará com seus ajustes de oferta para o mercado de petróleo, afirmou o secretário-geral da Opep Mohammad Barkindo em um seminário online neste sábado dia 4 de dezembro de 2021: “Continuaremos a fazer o que sabemos fazer melhor para garantir a estabilidade do mercado de petróleo em uma base sustentável”. E todos sabemos que o que a OPEP faz de melhor é dosar a oferta.

Creio que não existe um produto no mundo que tenha sua formação de preços mais discutida que o petróleo e seus derivados, o que faz todo sentido pois representam mais de 50% da oferta de energia global e, apesar de todos os esforços em contrário, devem continuar até pelo menos a metade desse século segundo a mesma organização: “Em todos os pronunciamentos que tivemos em Glasgow, na Conferência do Clima COP 26, ainda não vimos um mapa concreto ou planos para substituir esses 50%… sem criar turbulências sem precedentes no mercado de energia”, disse, referindo-se à cúpula do clima em Glasgow: “Óleo e gás serão necessários no futuro próximo”.

E o que os preços de petróleo tem a ver com a suinocultura brasileira?

É que a suinocultura brasileira insiste em discutir seus desafios focando as exportações, o consumo interno, a renda do consumidor, o preço das demais carnes, o atacado, o varejo, mas, não é capaz de discutir o ponto chave que nos ensina a OPEP: a base da formação de preços sustentáveis é a oferta!

Ninguém está aqui imaginando implantar controles de preços ou de produção ou qualquer ideia dessas que eram cogitadas na década de 1980. Quem não está totalmente consciente de que o capitalismo combina com liberdade de escolha não está vivendo nesse tempo.

Mas, é observando as mesmas regras do capitalismo que estamos propondo essa reflexão.

Em qualquer negócio do mundo, exposto à competição e aos processos de lucros e prejuízos uma regra básica é que o aumento da lucratividade tende a aumentar a oferta desse produto em um momento subsequente reduzindo essa mesma margem de lucro e, um possível prejuízo, colabora para a redução da oferta futura o que favorece a saída dessa mesma zona de prejuízo.

E a suinocultura brasileira funcionava baseada nessa regra durante boa parte de sua história. Não é à toa que um dos maiores prejuízos históricos entre 2002/2003 gerou posteriormente os maiores lucros em 2004/2005.

Colaboraram com esse evento específico no Brasil as relações de troca dos preços dos suínos com os preços dos cereais das rações, mas, o enxugamento da oferta foi decisivo na recuperação do setor.

Porém, cada vez mais o investimento em suinocultura por aqui tem sido dominado por grandes empresas e cooperativas de produção com alta capacidade de geração de caixa e vários negócios em vários setores da economia, não só a produção de carnes e grãos.

Esse investimento diferenciado e alheio ao ciclo de lucro/prejuízo específico do setor tem sustentado um crescimento do abate de suínos em bases anuais sem interrupções desde o ajuste de 2012. São praticamente 10 anos seguidos!

Gráfico 1: crescimento percentual de abate de suínos no Brasil.

Gráfico 1: Variação percentual do peso total de abate de suínos Brasil.
Gráfico 1: Variação percentual do peso total de abate de suínos Brasil.

Enquanto isso, nas mesmas bases anuais, a oferta de frangos e bovinos sofreram enxugamentos sucessivos.

O abate de frangos em 2013, 2017 e 2019, como mostra o Gráfico 2.

Gráfico 2: variação percentual do peso total de abate de frangos no Brasil segundo o IBGE.
Gráfico 2: variação percentual do peso total de abate de frangos no Brasil segundo o IBGE.

No gráfico 3, podemos ver o crescimento percentual de abate de bovinos no Brasil, em 2011, 2015 e 2020.

Gráfico 3: variação percentual do peso total de abate de bovinos no Brasil segundo o IBGE.
Gráfico 3: variação percentual do peso total de abate de bovinos no Brasil segundo o IBGE.

Se o passado nos ensina, podemos olhar para os Estados Unidos no final da década de 1980. Lá, as chamadas suinoculturas modernas tinham estimados um lucro 25% maior que as tradicionais. Com acesso a capital para investimentos e esse diferencial de eficiência o crescimento da suinocultura americana se tornou exponencial o que culminou com a grave crise de preços no final da década de 1990 (A história da Carroll`s Food).

No ano de 1998 os preços caíram 60% em relação à 1997, apesar do consumo interno ter crescido 7% e as exportações 32%!

O excesso de oferta, associado a outros fatores, saturou o mercado interno por lá produzindo uma quantidade de animais além da capacidade instalada de abate no país.

Excesso de oferta de suínos vivos com destruição das margens exclusivamente dos produtores, sem alterar os negócios de frigoríficos e do varejo.

Sempre dissemos isso: cada elo responde com preços, individualmente, à sua própria oferta e procura. Não é conspiração, é capitalismo.

É bom lembrar que, embora pareça e se apresente como tal, o capitalismo não é exatamente um sistema inteligente…ele tem mais tendência ao exagero do que à precisão.

Sob exagero e pânico ele mostra sua principal característica que é a capacidade de auto solução dos seus problemas: o enxugamento doloroso da oferta entra em curso com suas consequências desconfortáveis.

E não podemos dizer que isso é coisa do Brasil. Como o próprio texto mostra, em qualquer lugar do mundo, o excesso de investimento, em algum momento vem cobrar sua fatura.