Precisamos de reflexão, ponderação, racionalidade e bom senso nas decisões de produção para ajudar a colocar a cadeia de suínos novamente na zona de lucro.
Alvimar JallesSeguir
3 Abril 2023
O título do artigo bem poderia ser “Revisitando as curvas de oferta e de procura propostas em 2020.” Só que ele seria muito morno. Esse, escolhido acima, tem mais a cara de manchete e traz mais impacto.
Mas, sugiro a leitura do que foi escrito em 2020, para se ter mais clareza do cenário que estamos vivendo agora em 2023. “Oferta x procura: como essa equação simples determina a complexidade do mercado” foi o título escolhido lá, que procurava, através dos movimentos previsíveis e esperados nos antecipar alguma coisa do futuro.
O mercado de suínos no Brasil e do mundo, estava didaticamente sob os efeitos do crescimento da demanda pela carne suína vinda da Ásia, principalmente da China.
Para facilitar o entendimento e as conclusões, mostramos que o primeiro evento da sequência foi o estímulo em 2019 que o aumento das exportações provocou. Ele deslocou a curva de demanda que arrastou os preços para cima: D1 subindo para D2 e P1 subindo para P2 (figura 1).
Na sequência, já em meados de 2020, o bom preço traria o aumento da oferta. O estado maior produtor do Brasil que é Santa Catarina, no seu segundo trimestre já crescia à exorbitante taxa de 15,96% em relação ao mesmo trimestre de 2019 e 11,60% no comparativo anual. Era S1 crescendo para S2 com P2 caindo para P3 (o S é de oferta em inglês, “suply”. Perdão pelo idioma, mas foi a melhor imagem conseguida para ilustrar).
A partir daí sugeríamos que a oferta seguiria crescendo de S2 para S3 pela inércia natural do sistema de produção, levando o novo equilíbrio para um preço mais baixo, caindo de P3 para P4, sendo esse momento representado pelo ano de 2021.
O grande medo era o possível “recuo da curva de demanda (D2 volta para D1), depois de a oferta ter crescido (S1 está em S3)”, trazendo o preço para P5.
E nós tivemos apenas uma “amostra” dessa possibilidade que foi o recuo das compras chinesas da nossa carne suína entre novembro de 2021 e maio de 2022, produzindo o trágico início do ano passado (gráfico 1).
Por sorte ou providência, o recuo da curva de demanda foi interrompido em junho de 2022 vindo o ano todo totalizar exportações praticamente idênticas ao 2021 (gráfico 2).
Para introduzir o debate final, revisitamos o parágrafo abaixo reproduzindo literalmente do texto original: “para finalizarmos, com analogias claras em relação aos movimentos de demanda de carne suína brasileira pela China, o momento inicial (E1) foi o primeiro semestre de 2019, o momento 2 (E2) o segundo semestre de 2019. Os dados de crescimento de abates divulgados pelo IBGE semana passada nos sugerem que estamos caminhando para E3, respondendo com aumento de produção. O momento E4 ainda não chegou e o E5 é constantemente discutido: será o recuo nas importações de carne do mundo inteiro pela China quando retomarem sua produção interna de carne suína.”
Por razões que não temos espaço para debater aqui, o que aconteceu até agora é que a China reduziu as suas compras de carne suína do mundo inteiro e praticamente manteve as do Brasil (gráfico 3).
Nós, que entre 2018 e 2021, fomos responsáveis por um número aproximado de 12% das suas compras passamos para mais de 24%! Imagine o ano de 2022 do nosso mercado interno sem esse volume de compras escoado para a Ásia! (gráfico 4).
Se isso se mantiver, e o novo possível recrudescimento da Peste Suína Africana por lá, relatado agora em março, produzir mais demanda por nossa carne, poderemos mais uma vez ser salvos pela China.
O acaso vindo da Ásia salvou a suinocultura brasileira primeiro em 2018, limitou as perdas em 2022 e pode salvar novamente em 2023.
Para isso precisamos de reflexão, ponderação, racionalidade e bom senso nas decisões de produção. Para essa possível nova oportunidade, ajudar a colocar a cadeia de suínos novamente na zona de lucro.
É disso que todos precisamos nesse momento e estamos torcendo juntos!