Liquidez ou retenção? Quem faz o preço?

Quando analisamos a formação dos ciclos de preços dos suínos vivos, baseados na Bolsa de Minas Gerais, cujo comportamento não difere muito das demais regiões do Brasil, e a partir de 2019, quando se iniciou a atual metodologia de construção dos preços, o ano de 2023 é o com maior indefinição de tendência.

O que são os ciclos de preços? São intervalos com direção de alta ou de baixa e que são iniciados e finalizados por inversão da trajetória (alta versus baixa e vice e versa) ou algum evento que caracterize claramente a alteração da tendência.

Para que eles servem? Também para entendermos o mercado. Observe como estão se encurtando em 5 anos.

Em 2019 foram um total 5 ciclos com intervalos de 9 a 13 semanas, média de 10,0 e moda 9 semanas.

Em 2020 foram um total 7 ciclos com intervalos de 4 a 13 semanas, média de 8,0 e a moda 5 e 11 semanas.

Em 2021 foram um total 12 ciclos com intervalos de 2 a 8 semanas, média de 4,0 e moda 2 semanas.

Em 2022 foram um total 11 ciclos com intervalos de 1 a 8 semanas, média de 4,0 e moda 3 semanas.

Em 2023 já temos, faltando 3 meses para terminar o ano, um total 11 ciclos com intervalos de 2 a 9 semanas, média de 3,6 semanas e moda 2. Desde abril os ciclos não ultrapassam 4 semanas ou 1 mês.

De onde vem isso? Essa falta de direção clara? Esse bate e volta?

Do meu ponto de vista, temos alguma escassez de suínos vivos distribuída de modo irregular pelo Brasil como já discutimos por aqui antes. Em contrapartida, o mercado de atacado e varejo, de todas as carnes, anda razoavelmente ofertado com competição acirrada entre elas.

E como isso afeta a formação de preços?

Sabemos que o preço do suíno vivo é feito também por retenção que se transforma em escassez. Se o produtor segura os animais para provar seu ponto de vista os preços sobem…e ele tem conseguido fazer isso porque há alguma escassez real de animais para suprir o atual nível de consumo.

Em contrapartida, se o elo imediatamente posterior do produtor, o frigorífico, estiver com reais dificuldades de dar fluxo nas suas vendas, por uma concorrência forte a liquidez da carne suína, já processada, pode ser afetada e atrapalhar o fluxo dos animais vivos.

Qual a consequência disso? O ano de 2023!

Não há tendência claramente definida porque as condições de retenção do produtor e a perda de liquidez do frigorífico se revezam constantemente sem conseguir alterar ou romper o atual patamar dos preços nem para cima nem para baixo.

Diferente dos anos anteriores, nesse, o intervalo entre os preços de suporte (mínimo) e resistência (máximo) se encurtou embora o tempo de duração de cada ciclo também tenha sido reduzido. Podemos dizer que há uma nova dinâmica de equilíbrio.

No final das contas, os mercados soberanos sempre terão suas razões. Às vezes complexas, sempre multifatoriais e na maioria das vezes visíveis aos observadores atentos.

O equilíbrio dinâmico entre a capacidade de retenção de animais vivos e o comprometimento da liquidez da carne processada é peça chave da formação dos preços nesse momento.