Confesso que a primeira ideia que veio à minha cabeça foi queijo suíço. Mas, como bom mineiro, pesquisei e achei que há bons queijos da Serra da Canastra com os famosos furinhos também. São chamados rendados ou com olhaduras. Bem brasileiros…prefiro uma metáfora nossa.
Estamos pegando emprestado a metáfora do queijo que já é utilizada no estudo de falhas e erros. O que ela quer nos dizer é que um sistema não é homogêneo; pode ter “buracos” como um queijo. Podemos (e devemos) estar tendo zonas de escassez mesmo dentro de um Brasil com crescimento do processamento de animais e oferta de carne suína. Esses buracos vêm principalmente do mercado chamado independente, fora das grandes integrações e cooperativas de produção.
Sabemos que os anos recentes, muito duros, pequenos desapareceram, médios encolheram, grandes sofreram e gigantes trocaram de mãos. Apesar do sofrimento o saldo é de crescimento da produção.
Vamos olhar os dados do: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para os suínos, cuja prévia do processamento de animais do segundo trimestre de 2023 foi divulgada ontem.
Crescimento do total em peso sobre o primeiro trimestre: + 1,98%. Variação do peso total do segundo trimestre de 2023 sobre o mesmo trimestre de 2022: -0,32%. Crescimento do peso total de 4 trimestres consecutivos sobre 4 trimestres anteriores (um ano) + 2,80%.
Crescimento do peso médio das carcaças do segundo trimestre de 2023 sobre o primeiro trimestre: + 3,11%. Do segundo trimestre de 2023 sobre o mesmo trimestre de 2022: +1,25%.
Ainda enxergo praticamente só crescimentos! Percentualmente menores, mas positivos.
Quando olhamos a disponibilidade interna, que é a quantidade processada em quilogramas subtraída das exportações, as variações são negativas para a carne suína: -1,01% sobre o trimestre anterior e -3,79% sobre o mesmo período do ano anterior.
Aí nasce o dilema: quem está afetando mais os preços do suíno vivo? Escassez localizada ou disponibilidade interna em ligeiro declínio fruto das exportações?
Para essa dúvida vamos precisar olhar mais a vida prática que os números oficiais.
Durante nossas viagens pelo Brasil e diálogos com profissionais da cadeia de produção ficam evidentes enxugamentos regionais no Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, no mínimo. Minas Gerais também, de onde escrevo para vocês. Essa redução na oferta foi fundamental para sustentar os recentes aumentos de preços.
Comparando com algo já bem estabelecido na análise de mercado seria como o “diferencial de base” do bovino onde os preços variam de acordo com a escassez em cada região e, limitações logísticas, impedem uma equação de preços homogênea em todo o país.
A crescente disponibilidade interna de frango e bovino também está nessa conta. Só que hoje não temos espaço para incluí-los no texto.
Concluindo: por que na suinocultura enfatizo a escassez localizada em detrimento do pequeno saldo negativo da disponibilidade interna? Porque o mercado de carnes está mais fragilizado que o mercado de animais vivos. Se a causa principal fossem as exportações, ele certamente estaria mais firme. Isso é especialmente visível em estados como São Paulo, que concentram uma pressão de oferta mais acentuada de suínos, carcaças e cortes impedindo o efeito da escassez regionalizada.