Como dito no nosso último texto, as emoções fizeram o preço. Então agora vamos olhar os fundamentos.
Desde 30/03/2023, há exatamente 7 semanas ou 49 dias, a referência da carcaça suína no atacado está em R$ 9,50.
Essa é uma métrica do elo do mercado de carnes que, apesar de muito próximo, não é exatamente idêntico ao mercado de cevados ou animais vivos. Se a concorrência para vender carne estivesse restrita o preço teria subido…se ela tivesse feroz ele teria caído. Portanto ela está estável. Não sou eu dizendo, são os números.
Dentro desses 49 dias da carcaça estável o suíno vivo, na referência de Minas Gerais, manteve-se em 71% do tempo (35 dias) uma relação de 68,4% do animal vivo/carcaça e nas últimas 2 semanas (14 dias) se deslocou para 73,7%.
Quando a relação está na casa dos 68% significa oferta abundante de animais. Quando ela vai para a casa dos 74% temos oferta restrita. E essa oferta se tornou restrita de verdade? Não creio.
Foi a emoção que deslocou o preço ao produtor da zona de limite inferior, mas o mercado como um todo não encontrou forças para reagir além disso.
Se é que existe preço mais certo (o que é questionável) eu tenho a tendência de achar que é esse R$ 7,00 em vigor atualmente. O R$ 6,80 anterior continha turbulências e necessidade extra de caixa. Atualmente, com as quedas de preços dos cereais, essa necessidade de caixa começa a se aliviar, reduzindo pressão de vendas, o que também ajuda a alterar esse patamar de 68% para 74%.
O melhor farol para iluminar o mercado daqui para frente será o preço da carcaça. O suíno irá acompanhá-la. Não tem forças para induzi-la. Existe oferta.
Mercado é feito de oferta versus procura que são fortemente afetadas pelas expectativas às quais também chamamos de emoções. Tudo perceptível para o observador atento.
Não é possível fazer preço só observando se a demanda está suficiente e “o mercado está vendendo tudo”. É preciso observar atentamente a oferta e não raciocinar como se ela não existisse, hábito comum da suinocultura.
Por aqui só falamos de exportações, frio, datas, quaresmas e outros eventos possivelmente e exclusivamente relacionados à demanda como se não tivéssemos dados disponíveis para processar e entender a oferta. É por isso que ficamos sonhando com o impossível. Por sinal, como dizem, “quando as pessoas querem o impossível somente os mentirosos podem satisfazê-las”.
Nos debates de mercado da suinocultura já conhecemos duas categorias: os analistas e os torcedores. Temo estarmos criando uma terceira: os “mentiristas”.
Produzem uma série de raciocínios que aparentam análise, mas são apenas sofismas e distorções dos fatos como se fosse possível ganhar o mercado no grito…e não é! A realidade não se importa com os nossos possíveis desejos. Ela segue seu curso.
A contribuição que nos propomos é exclusivamente através das análises dos fatos, dados, fundamentos e comportamentos. Todos temperados pelas emoções que os circundam porque esses sim são indissociáveis.
Mentira e mercado já não combinam porque essa mistura tóxica sempre cobra seu preço mais cedo do que parece.