Vai faltar suíno no final do ano? Quantas vezes já ouvimos perguntas semelhantes sobre milho, soja e outros exemplos.
Minha resposta sempre foi a mesma: nunca vi faltar mercadoria…o que sempre falta é dinheiro para comprá-las.
Por quê? Porque os preços vão subindo de tal forma que os compradores reduzem o uso e simultaneamente buscam alternativas, de modo que o resultado sempre será o ajuste da disponibilidade da mercadoria em questão.
E com o suíno? Há alguma razão para ser diferente? Não creio. A lógica é a mesma.
Sabemos desde o início que essa escassez veio do mercado externo. Ela puxou os preços para o teto e esses valores não são compatíveis com a liquidez ideal do mercado interno.
As empresas frigoríficas que precisam comprar os suínos vivos o fazem independente do preço porque não podem simplesmente parar suas operações. Quanto mais processam, mais diluem os custos fixos, mas, isso virou um dilema já que têm dificuldades em repassar os custos atuais.
As empresas verticalizadas têm seus resultados atrelados ao custo de produção dos próprios suínos, não estão pressionadas atualmente. Estiveram poucos anos atrás. A situação de ambas atualmente se inverteu em relação à última crise da suinocultura.
Hoje, um grupo tenta repassar por sobrevivência, outro por oportunidade. Nada de errado, sendo tudo parte das regras de mercado.
Vejamos a variação das carnes nos últimos três meses, com agosto como referência, pelos dados da SEAB – Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná. Suíno ao produtor subiu 13,3%, carcaças no atacado 19,3%, pernil no atacado 20,1% e pernil no varejo 9,5%. O boi ao produtor teve alta de 2,6%, dianteiro bovino no atacado subiu 5,4%, traseiro bovino 4,6%, acém bovino no varejo aumentou 0,3%, enquanto o filé mignon caiu 2,3%. Já o frango vivo ao produtor subiu 4,2%, o frango resfriado no atacado caiu 1,3% e no varejo teve queda de 4,4%.
Se essa alta de preços específica na cadeia suína não ajustar a demanda interna e os preços, talvez seja necessário reavaliar a lógica que rege o setor.
Algo similar ocorreu no final de 2020, ano com toda a sua excepcionalidade, em que Papai Noel não entregou um preço mais alto em dezembro porque não foi possível ultrapassar os valores de outubro e novembro.
O ajuste está em curso e a reorganização dos preços virá, a única dúvida é em quanto tempo.
O que diferencia no caso dos suínos são apenas os nossos “vieses de confirmação”: interpretamos as informações que reforçam nossos desejos e ignoramos as que os contradizem.
Mas, para você que leu até aqui, e porventura ainda acredita que o mercado se altera pelo que falamos fique tranquilo, ele não liga para nada do que eu ou você dissermos, seguirá seu curso independente de qualquer opinião.