Os mercados e a psicologia estão sempre interligados. A economia comportamental já foi reconhecida com um Prêmio Nobel com o trabalho sobre como as pessoas realmente tomam decisões, desafiando a ideia de que os seres humanos são sempre racionais em suas escolhas.
Quando analisamos as exportações de carne suína in natura de julho, temos um recorde absoluto de 119.359 mil toneladas. Foram 25.480 mil toneladas acima de junho de 2024 e 25.183 acima de julho de 2023. Crescimento em torno de 27%. Uma enormidade!
Fazendo um exercício, as 25.480 mil toneladas a mais divididas pelo peso médio líquido do cevado processado, apurado pelo IBGE nos dados definitivos do primeiro trimestre de 2024, de 91,84 kg (127,20 kg de peso vivo) teremos 277.442 cevados “exportados” a mais. O mesmo IBGE nos informa que processamos nos 63 dias úteis do primeiro trimestre do ano 13 milhões e 946 mil animais, portanto, 221.365 animais por dia.
Podemos concluir que exportamos a mais 1,25 dias úteis de animais em junho de 2024, um mês de 23 dias úteis. Isso equivale a um aumento de 5,43%. Considerando a estabilidade da oferta, seria esse percentual capaz de gerar escassez e tamanho impacto no preço?
Podemos e devemos exercitar que essa pressão extra de 5,43% é feita apenas sobre 33,3% da produção que é a suinocultura independente (estudo da ABCS). Teríamos, portanto, uma distribuição desigual de 16,30% de demanda extra nesse mercado (5,43% divididos por 33,3%). Considerável!
Com os atuais custos de produção em patamares confortáveis em relação aos preços de venda e a confiança no futuro de curto, prazo estão criadas as condições perfeitas para o que chamamos de “retenção ativa” por parte dos produtores. É quando não há pressão de antecipação de venda devido ao medo da queda do preço. Só temos o movimento contrário desde início de junho até hoje, quando a referência de Minas Gerais saiu de R$ 6,70 no final de maio para R$ 9,00 na semana corrente. São 34,3% em 11 semanas. Algo semelhante só no atípico 2020.
Quem irá resolver essa dúvida será o peso médio de abate de mesmo IBGE a partir de junho. Se está havendo queda compatível com as alegações de que não há disponibilidade suficiente de animais inclusive nos 66,6% que é a produção integrada somadas às cooperativas verticalizadas ou se é a “retenção ativa” do produtor independente que está escalando o preço.