Todos nós possuímos pontos de vista e vieses que desenvolvemos e acumulamos ao longo da vida. Esses elementos influenciam como interpretamos e reagimos aos desafios. Embora sejam geralmente fortes em cada um de nós, podem ser ajustados e atualizados, especialmente quando melhoramos nossos diagnósticos e, com isso, passamos a fazer escolhas mais eficientes.
Falando em diagnóstico, eles são fundamentais para o sucesso das nossas decisões. Reflita sobre como diagnósticos errados impedem soluções em qualquer área. Um exemplo é a sanidade das suinoculturas. Você acha possível alcançar um nível elevado de sanidade com diagnósticos errados? Sabemos que é impossível! Bons diagnósticos são úteis para tudo, inclusive para entender o mercado.
Quem internaliza bons fundamentos não cogita soluções que estejam fora da realidade do capitalismo, pois uma interpretação lógica e estruturada proporciona sempre as melhores escolhas. Atualmente, com o momento favorável que a suinocultura brasileira atravessa desde junho de 2024, temos a oportunidade de observar as forças do mercado em ação, sem os vieses negativos causados pelas crises.
No atual cenário favorável, podemos analisar o mercado de forma mais leve, compreendendo que essas forças sempre estão em atuação, independentemente de nos beneficiarem ou não. É uma oportunidade para discuti-las já que o preço do suíno está em alta, proporcionando margem de lucro ao produtor. Isso dificulta as críticas de quem, desconectado da realidade, acredita que os preços são manipulados por forças inexistentes. Um grande engano!
Aqueles que já exercitaram uma observação imparcial do mercado percebem o que estou descrevendo. Contudo, para aqueles que estão começando a explorar este ambiente analítico, livre de mitos, este artigo é especialmente dedicado.
Oferta: Desde junho de 2022, a produção tem crescido a taxas modestas. A disponibilidade interna de carne suína tem se mantido estável nesse período, em torno de 20,5 kg por habitante ao ano. Sem o excesso de produção e equilíbrio entre oferta e demanda interna, pequenas escassezes sucessivas ajudam impulsionar os preços.
Demanda interna: Sem incrementos. O desemprego no mesmo trimestre do ano passado era de 8,0% e agora é 6,9%: queda de 13,75%. O rendimento médio do trabalhador era R$ 3.037,0, agora é R$ 3.214,0, alta de 5,83%. Para uma inflação pelo IPCA de 12 meses em junho agora de 4,23% há algum ganho real, porém modesto. Tudo segundo o IBGE. Entretanto, o consumo per capita pode cair este ano, já que, com a produção semelhante há um forte aumento nas exportações. Enquanto escrevo este texto, as análises de mercado de frango e boi mostram que esses setores não estão na mesma condição favorável que o da suinocultura. Se a renda fosse a variável decisiva, ela impactaria todas as carnes.
Demanda externa: Esta é a grande estrela do momento para a suinocultura! As recentes exportações têm promovido uma forte redução dos produtos suínos no mercado interno. Os embarques de em julho de 2024 cresceram 27,1% sobre junho de 2024 e 26,7% sobre julho de 2023. Como o mercado é perfeito, com múltiplos vendedores e compradores, o resultado é imediato: a escassez reduz a concorrência, elevando os preços em toda a cadeia suinícola. Este é sempre o ponto crucial para os preços: escassez versus abundância!
Expectativas: Extremamente positivas. Quando há margem de lucro e confiança no futuro a “necessidade” de venda se reduz e o produtor “dosa” sua disponibilidade de animais. Chamamos de “retenção ativa” que é uma força importante nos preços. Compare ao cenário oposto: a pressão extra de antecipar vendas é destrutiva.
Carnes concorrentes: Observando os preços nos últimos 3 meses, pela série da SEAB – Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná – vemos que no atacado a carcaça suína subiu 15,1%, o dianteiro bovino 6,0%, o traseiro bovino 3,0%, e o frango resfriado caiu 0,7%. No varejo, o pernil aumentou 6,1%, o lombo suíno 6,3%, o filé 2,5%, enquanto o acém bovino caiu 3,2% e o frango resfriado subiu 6,3%. Não parece haver um movimento de preços que favoreça especialmente o consumo dos nossos produtos. Pelo contrário, a alta significativa da carcaça suína ainda não foi repassada do atacado para o varejo.
Especulação: você já ouviu a frase de que “o mercado está muito especulado”. Pois é… o mercado sempre está especulado. É da sua própria natureza. Por todas as partes principalmente pela que está com a tendência favorável. Atualmente quem está especulando é você produtor.
União para fazer preço: Esse mecanismo de “união para fazer preço” é inexistente. A ilusão surge quando a tendência já nos é favorável e o preço desejado é alcançado, dando a falsa impressão de que foi a união. Na verdade, foi uma convergência naturalmente positiva do mercado. Se tem alguma dúvida, experimente, em um momento desfavorável, segurar seus animais para colaborar com a “união”… você ficará com sua mercadoria retida.
Culpados por baixa do preço: Lembra daquele frigorífico causador da queda de preços? Ninguém mais fala dele… na verdade, ele nunca foi a causa de nada, apenas um sintoma de um mercado que já estava enfraquecendo. Isso também vale para aquele vizinho que você inconscientemente culpa por eventos sem culpados. Eventos de mercado são frutos de comportamentos coletivos, que incluem o seu. Antecipar-se às quedas é um processo inerente aos participantes de mercados de quaisquer produtos.
Em resumo, o mercado é soberano e reage à sequência de oferta, demanda, expectativas, especulação e concorrência para vender ou comprar. Cada uma dessas fases, além de responder à quantidade real de mercadorias, é decisivamente influenciada pelos comportamentos dos agentes envolvidos.
O mercado de carne suína no Brasil é de concorrência perfeita, com muitas empresas produzindo produtos idênticos e homogêneos, e muitos compradores dispostos a adquirir esses produtos. Portanto, acreditar que o mercado está certo quando nos favorece e errado quando não está é um sinal de desconhecimento do seu funcionamento. E aí sim, ele pode até parecer manipulado para você, mas isso só ocorre porque você ignora as regras do jogo. Elas são as mesmas em qualquer momento!
Este é um contexto especial para entender, aprender e adaptar comportamentos de acordo com o grau de maturidade que o negócio exige de seus empreendedores. Atualmente, a maioria dos participantes da cadeia de produção de suínos tem visões maduras, que incluem a autorresponsabilidade pelas próprias decisões de investimento, reserva de caixa, estoques de insumos e outros mecanismos de proteção para tempos difíceis. Essas proteções são construídas agora, em tempos de fartura!
No entanto, existem alguns com visão egocêntrica, sonhando um mundo onde todos os seus desejos são atendidos. Eles geralmente permanecem em silêncio nos bons momentos, não se preparam adequadamente para os tempos difíceis e depois fazem reclamações barulhentas nas fases ruins… como se isso alterasse a realidade.
O momento é propício para você refletir sobre em qual grupo se encontra. Caso não esteja no mais adequado, sempre é tempo de reavaliar e fazer os ajustes necessários. Quem sairá ganhando será você!