O problema é que o consumidor está sem renda! Quantas vezes você já pensou, disse ou ouviu isso?
Pois é… vamos verificar isso à luz de dados que se originam dos fatos…
Para analisar usaremos informações de renda, cesta básica de consumo e preços de carnes no varejo. Preços do varejo da SEAB – PR Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, salário-mínimo brasileiro, inflação decomposta do IPCA do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e a cesta básica do DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.
Em fevereiro de 2020, antes da Pandemia de Covid19 um salário-mínimo de R$ 1.045,00 comprava 75,8 kg de pernil suíno, 50,8 kg de lombo suíno, 132,1 kg de frango resfriado e 56,5 kg de acém bovino.
Em fevereiro de 2022, um salário-mínimo de R$ 1.212,00 comprava 93,9 kg de pernil suíno (+23,0%), 52,6 kg de lombo suíno (+3,5%), 120,7 kg de frango resfriado (-8,6%) e 43,1 kg de acém bovino (-23,7%).
Em fevereiro de 2024, um salário-mínimo de R$ 1.412,00 comprava 106,08 kg de pernil suíno (+40,0% sobre 2020), 59,0 kg de lombo suíno (+16,1% sobre 2020), 121,6 kg de frango resfriado (-7,9% sobre 2020), e 54,3 kg de acém bovino (-3,9% sobre 2020).
Observando essas referências houve um crescimento robusto do poder de compra sobre a carne suína, uma perda de 8% em relação ao frango e quase uma recuperação do poder de compra sobre o corte popular da carne bovina.
Quando dividimos o mesmo salário-mínimo pela cesta básica do DIEESE temos em fevereiro de 2020 a compra de 2,01 cestas, em fevereiro de 2022 1,69 cestas (-15,7%) e recentemente em fevereiro de 2024 1,75 cestas (-12,9% sobre 2020 e +3,5% sobre 2022).
Observando os dados acima, podemos concluir que, pela métrica do salário-mínimo, o consumidor perdeu razoável poder de compra para uma cesta de consumo, mesmo tendo praticamente preservado sua capacidade de adquirir carnes em geral.
Podemos então dizer que nosso problema é o consumidor que está sem renda?
Antes de concluir vamos olhar o que aconteceu com os reajustes de outras categorias, em relação às carnes, através da decomposição do IPCA do IBGE. As raízes e tubérculos corrigiram acima das carnes 2,9 vezes; arroz 2,8 vezes; feijão 2,0 vezes; frutas 2,4 vezes; verduras 2,3 vezes e farinhas 1,4 vezes.
Eu diria que além do consumidor perder renda, as carnes aumentaram muito sua oferta e perderam para outros itens que tiveram ofertas mais restritas.
O capitalismo é complexo e baseado na interação entre oferta e demanda, afetando tanto positivamente quanto negativamente produtores e consumidores. Não há culpados!